Ao contrário do que se costuma pensar, o sistema partidário brasileiro tem um
enraizamento social expressivo. Ao considerar nossas instituições políticas,
pode-se até dizer que ele é muito significativo.
Em um país com democracia intermitente, baixo acesso à educação e onde a
participação eleitoral é obrigatória, a proporção de cidadãos que se identificam
com algum partido chega a ser surpreendente.
Se há, portanto, uma coisa que chama a atenção no Brasil não é a ausência,
mas a presença de vínculos partidários no eleitorado.
Conforme mostram as pesquisas, metade dos eleitores tem algum vínculo.
Seria possível imaginar que essa taxa é consequência de termos um amplo e
variado multipartidarismo, com 29 legendas registradas. Com um cardápio tão
vasto, qualquer um poderia encontrar ao menos um partido com o qual concordar.
Mas não é o que acontece. Pois, se o sistema partidário é disperso, as
identificações são concentradas. Na verdade, fortemente concentradas.
O Vox Populi fez recentemente uma pesquisa de âmbito nacional sobre o tema.
Deu o esperado: 48% dos entrevistados disseram simpatizar com algum partido. Mas
80% desses se restringiram a apenas três: PT (com 28% das respostas), PMDB (com
6%) e PSDB (com 5%). Olhado desse modo, o sistema é, portanto, bem menos
heterogêneo, pois os restantes 26 partidos dividem os 20% que sobram. Temos a
rigor apenas três partidos de expressão. Entre os três, um padrão semelhante.
Sozinho, o PT representa quase 60% das identidades partidárias, o que faz com
que todos os demais, incluindo os grandes, se apequenem perante ele.
Em resumo, 50% dos eleitores brasileiros não têm partido; 30% são petistas e
20% simpatizam com algum outro – e a metade desses é peemedebista ou tucana. Do
primeiro para o segundo, a relação é de quase cinco vezes.
A proeminência do PT é ainda mais acentuada quando se pede ao entrevistado
que diga se “simpatiza”, “antipatiza” ou se não tem um ou outro sentimento em
relação ao partido. Entre “muita” e “alguma simpatia”, temos 51%. Outros 37% se
dizem indiferentes. Ficam 11%, que antipatizam “alguma” coisa ou “muito” com
ele.
Essa simpatia está presente mesmo entre os que se identificam com os demais
partidos. É simpática ao PT a metade dos que se sentem próximos ao PMDB, um
terço dos que gostam do PSDB e metade dos que simpatizam com os outros.
Se o partido é visto com bons olhos por proporções tão amplas, não espanta
que seja avaliado positivamente pela maioria em diversos quesitos: 74% do total
de entrevistados o consideram um partido “moderno” (ante 14% que o acham
“ultrapassado”); 70% entendem que “tem compromisso com os pobres”(ante 14% que
dizem que não); 66% afirmam que “busca atender ao interesse da maioria da
população” (ante 15% que não acreditam nisso). Até em uma dimensão
particularmente complicada seu desempenho é positivo: 56% dos entrevistados
acham que “cumpre o que promete” (enquanto 23% dizem que não). Níveis de
confiança como esses não são comuns em nosso sistema político.
Ao comparar os resultados dessa pesquisa com outras, percebe-se que a imagem
do PT apresenta uma leve tendência de melhora nos últimos anos. No mínimo, de
estabilidade. Entre 2008 e 2012, por exemplo, a proporção dos que dizem que o
partido tem atuação “positiva na política brasileira” foi de 57% a 66%.
A avaliação de sua contribuição para o crescimento do País também se mantém
elevada: em 2008, 63% dos entrevistados estavam de acordo com a frase “O PT
ajuda o Brasil a crescer”, proporção que foi a 72% neste ano.
O sucesso de Lula e o bom começo de Dilma Rousseff são uma parte importante
da explicação para esses números. Mas não seria correto interpretá-los como
fruto exclusivo da atuação de ambos.
Nas suas três décadas de existência, o PT desenvolveu algo que inexistia em
nossa cultura política e se diferenciou dos demais partidos da atualidade:
formou laços sólidos com uma ampla parcela do eleitorado. O petismo tornou-se um
fenômeno de massa.
Há, é certo, quem não goste dele – os 11% que antipatizam, entre os quais os
5% que desgostam muito. Mas não mudam o quadro.
Ao se considerar tudo que aconteceu ao partido e ao se levar em conta o
tratamento sistematicamente negativo que recebe da chamada “grande imprensa”-
demonstrado em pesquisas acadêmicas realizadas por instituições respeitadas – é
um saldo muito bom.
É com essa imagem e a forte aprovação de suas principais lideranças que o PT
se prepara para enfrentar os difíceis dias em que o coro da indústria de
comunicação usará o julgamento do mensalão para desgastá-lo.
Conseguirá?
*Marcos Coimbra, sociólogo e presidente do Instituto Vox
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